sábado, 10 de julho de 2010

(Quase) Sob Controle

Coloque duas garotas rockeiras em uma Festa Julhina de escola particular, com uma inimiga à solta, um bar vendendo vinho para menores e uma pista de dança bem no meio da festa.
Lady GaGa nem passaria perto.
Estavamos eu e K. bem na festa divertindo, dando umas voltas para ver se a gente achava alguém conhecido. Rimos horrores na frente da nossa minúscula inimiga, dançamos, fugimos do cara bebado que estava olhando para minha bunda e para os peitos da K; ficamos avaliando os emos que passavam e revelamos segredos inconfessáveis uma para outra.
Estava tudo bem até eu resolver tomar um copo de vinho.
Tomei um copo inteiro, e depois a K pegou um para ela. Estavamos sóbrias até a J. chegar e pedir uma vodka, e eu e a K resolvermos experimentar. Cara, foi como beber álcool puro. Era horrível, tirou toda a minha oxigenação. Depois a J. pagou meio vinho pra mim e meio pra K. O que pegou mal foi total aquela vodka.
A K. toma anti-depressivo, e por isso, ela ficou tontinha. Eu fiquei tonta também porque não estava acostumada à detonar meu fígado dessa maneira. Minha glicose deve ter abaixado consideravelmente. Achei que a K. fosse vomitar.
Ela mesma entornou vinho na calça nova dela, e ela teve que mentir para a tia dela que foi um cara que empurrou a pobre coitada e nada mais havia acontecido. E a tia dela acreditou, mesmo sabendo que a K. tem tara por vinho. (Oh, ninguém mais aqui tem, certo?) Nosso primeiro porre foi um sucesso, diga-se de passagem.
Por dentro eu estava zonza, mas por fora agi como se nada tivesse acontecido. Eu e a K. fomos para o meio da pista dançar. Foi totalmente estranho. A gente meio zonza, a música tocando e aquele gelo seco bem no meu nariz. Dançamos até o chão. E eu não estava bebada, me lembro de tudo o que realmente aconteceu, cada detalhe.
Minha mãe nem percebeu nada. Ela nos tirou bem no auge da festa. Me senti como a Cinderela, meia noite a gente estava saindo do baile. Só que nem tanto porque eu odeio o capitalismo Disney. Depois que eu voltei para casa, entrei no msn e agi normalmente. Nem acordei de ressaca. Estou preparadíssima para a FJ da minha escola. Só que sem bebidas, é claro.

Depreciação Escolar

Para todas as coisas sempre tem a primeira vez.
Como não te deixarem entrar na escola depois de você chegar cinco minutos a mais depois do prazo de tolerância estipulado. Isso nunca tinha acontecido comigo antes, até eu entrar em uma nova escola e ingressar em algo indescritivelmente agridoce chamado Ensino Médio.
Que tipo de droga a pessoa estava usando quando ela decidiu construir uma escola bem no alto de um morro? E não era bem um morro, era quase uma colina. Como se eu tivesse vocação para ser cabrito.

É um fato incontestável que quem estuda durante a tarde não tem vida. Você não pode ir nunca no centro da cidade porque está quase na hora das lojas fecharem, e você está cansada o suficiente no sábado para não conseguir acordar antes do meio dia. E como se não bastasse eu levar essa vida promíscua, vem um cara e me coloca a escola de Ensino Médio mais perto da minha casa, que eu não preciso pegar onibus nem nada, bem no alto, lá no pico do morro. É pedir pra não ir na aula.

Mas o diretor não poderia compreender a complexidade de uma vida feminina, seu cérebro masculino e capitalista é pequeno demais para compreender tudo isso. Ele ainda apoia o PT. Sou muito mais Karl Marx, mas sei que são apenas utopias impossíveis de se realizar. Pelo menos eu tento me adaptar à realidade, não ele que acha que só porque ele é o diretor que ele tem que restringir as nossas atividades diárias.

Por exemplo, eu acordo umas nove e meia da manhã. Eu tenho que tomar banho, lavar a cabeça, secar e passar chapinha no cabelo, escutar música e ainda ver se alguém me mandou scrap no orkut. E ele ainda quer que, depois de tudo isso, eu suba correndo para a escola para passar as quatro horas e meia mais longas do dia, como se eu fosse uma espécie de masoquista ou qualquer coisa parecida.

Eu sei que eu não sou muito rápida para aprontar, tudo por causa da minha auto estima que cai mais que glicose de bêbado, e por isso eu tenho que maquiar, escolher o tênis, os acessórios, ajeitar o cabelo pra não parecer muito padrão e me olhar na frente do espelho satisfeita com o que quer que eu veja. Pressão psicológica demais, né?

Meu Deus, foram só cinco minutos! Eu tenho que chegar na escola 12:30, mas o prazo de tolerância é até 12:40, e eu cheguei 12:45. E para vocês não pensarem que eu não gosto de estudar e não me empenho para isso, eu perguntei se eu poderia entrar no segundo horário, e ele me ignorou. Aham, senta lá Cláudia.

Depois de lutar contra Newton e sua Lei da Gravidade, eu desci tranquilamente o Monte Everest e fui diretamente para casa. O sol estava rachando em minha cabeça e eu estava morrendo de preguiça para forjar qualquer coisa. Eis o diálogo:
— Mãe, eu cheguei atrasada e a piranha desgraçada imprestável do diretor não quis me deixar entrar.
— Tá vendo, isso que eu falo, você só sai de casa tarde. Você atrasa em tudo, parece que gosta de chegar atrasada. Mas eu não vou te deixar de castigo, porque você poderia ter agido como se tivesse matando aula. Porém, você disse a verdade.
— Ah, então tá mãe.
Sabe, as vezes eu tenho orgulho de mim mesma.
— Mas então arruma essa cozinha ae que sua irmã não chegou até agora.

Eu sei, nada é perfeito. Mas se ela estava drogada ou sob efeito de calmante, eu nunca saberei. Só sei que a vida sabe me surpreender de um jeito que eu nem compreendo. E não vou querer compreender, desde que ela me dê esses presentinhos agradáveis e inusitados sempre.